quarta-feira, 1 de junho de 2011
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO MUNDO
Em setembro do ano 2000, enquanto a ONU realizava o Fórum do Milênio em Nova York, foi realizado na mesma cidade um debate pelo State of the Word Forum sobre temas de importância mundial. Um grupo de universitários americanos, através da Universidade de Nova York, convidou o senador Cristovam Buarque para o debate, pois eles haviam tomado conhecimento que ele seria uma pessoa que valeria a pena ser ouvida.
Enquanto se realizava o fórum, levantou-se um universitário americano e fez a seguinte pergunta ao senador Cristovam Buarque:
O QUE O SENHOR PENSA SOBRE A INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA, JA QUE ELA É UMA RESERVA AMBIENTAL IMPORTANTE PARA O MUNDO INTEIRO, E NÃO ESTÁ SENDO PROTEGIDA POR QUEM DEVERIA? GOSTARIA QUE RESPONDESSE COMO UM HUMANISTA, E NÃO COMO UM BRASILEIRO.
Essa foi a resposta do Sr. Cristovam Buarque:
De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
COMO HUMANISTA, ACEITO DEFENDER A INTERNACIONALIZAÇÃO DO MUNDO, MAS ENQUANTO O MUNDO ME TRATAR COMO BRASILEIRO LUTEREI PARA QUE A AMAZÔNIA SEJA NOSSA. SÓ NOSSA.
Depois dessa resposta o debate foi encerrado, não tinha mais o que ser dito ou ouvido. O impacto da resposta foi tão grande que muitos brasileiros presentes foram às lágrimas. O senador não mencionou palavras como fronteira, guerra, armas, defesa.
Fonte: "Biologia na Medida Certa"
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