Artista morreu aos 73 anos durante uma cirurgia emergencial nesta quinta. Ted deu entrada no hospital com insuficiência vascular aguda. |
Segundo o filho, ele fazia hemodiálise há 3
anos, era diabético e sofria com problema de pressão. "Não tenho duvida
de que ele era um fenômeno, ele era muito importante. Eu estava com
ele na cirurgia", contou. Sobre alguns hábitos do pai, Ted diz que a
família preferia não brigar com o astro. "Ele estava vivendo os últimos
momentos dele. Quem somos nós pra limitar uma pessoa? O cigarro, todo
mundo sabe que faz mal fumar, mas eu vou fazer o que? Vou brigar?",
declarou. "Ele gostava era de comer. Quando viajei, me
pediu pra trazer uma dobradinha pra ele, mesmo fazendo hemodiálise. Ele
adoeceu por bobagem, ele era diabético e comia um monte de bobagem. Se
não tivesse adoecido, iria pro Sul e já tinha me chamado pra comer um
churrasco", disse Adílio Maschio, amigo de Ted há 25 anos. Marino nasceu na Calábria, região da Itália, em
18 de outubro de 1939. Foi para Buenos Aires em 1953, no porão de um
navio, aos 12 anos de idade, junto com os pais e cinco irmãos. Em 1962,
começou a participar de programas de telecatch na Argentina e no
Uruguai. Em 1965, chegou ao Brasil e logo foi contratado pela antiga TV
Excelsior. Conquistou muitos fãs, pois além de lutar e
derrotar astros desse esporte, como Verdugo, Rasputim, Barba Negra,
Múmia, Ted era o "bonitão". Ted foi convidado para entrar em um programa humorístico, como companheiro de Wanderley Cardoso, com direção de Wilton Franco. Wanderley era o ídolo das garotas e Ted também conseguia muitas
admiradoras. Wilton Franco escalou também o cantor e ator Ivon Cury,
para dar mais segurança ao texto e o programa fez sucesso. Foi quando
foi escalado também um humorista novo, no qual Wilton Franco confiou.
Ele se chamava Renato Aragão. Logo depois, surgiu o quarteto que chegava a 50
e a 60 de ibope. Ted e Aragão estrelaram o filme: "Dois na Lona", em
1968. Aí nasceram "Os Trapalhões". Ted Boy Marino participou de diversos filmes, entre eles "Os três
palhaços e o menino", em 1982, "Os paspalhões em Pinóquio 2000", em
1980. Em 1992, ele esteve no ar em "Você decide", na TV Globo. Sua
última participação na televisão foi na novela "Bang bang", também da
Globo, em 2005. Ted fazia, também na TV Globo, o "Sessão zaz trás". Todas as noites,
antes do Jornal Nacional, entrava na novelinha "Orion IV x Ted Boy
Marinho" e às terças-feiras, fazia o "Que delícia de show", onde era
apresentador de um programa de variedades. Aos sábados era exibido o
Telecatch.
O HERÓI DA JOVEM GUARDA
POR ALEX MEDEIROS (www.alexmedeiros.com.br)
– O mais popular movimento cultural do Brasil, lançado pela geração de
Roberto Carlos no limiar da década de 1960, no rastro do sucesso mundial
dos Beatles, não foi feito apenas de cantores e músicos. A Jovem Guarda
foi um guarda-chuva para tudo. Além de artistas
como Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Eduardo
Araújo, Renato e Seus Blue Caps, entre tantos, havia também os heróis
esportivos do povo brasileiro: Pelé, Eder Jofre e um garoto de cabelos
lisos e louros. A então jovem TV nacional tinha
como um dos programas campeões de audiência as lutas de “telecatch”, que
superavam facilmente qualquer transmissão de futebol, ainda não
inserido no hábito dos telespectadores. E o rei da luta livre era Ted
Boy Marino.O galego boa pinta, nascido na Itália
e criado na Argentina, conseguiu levar para os ringues não apenas seu
talento na técnica do “wrestling”, mas também incorporou os arquétipos
de uma moda que se espalhava pelo planeta como rastilho de pólvora. Ted Boy, com seu nome de radialista de rock ‘n’ roll, era um legítimo representante da cultura do Iê, Iê, Iê
massificada na mídia e no mercado pelo jovem rei Roberto Carlos e seus
muitos súditos. A estampa do lutador seguia o modelo dos garotos de
Liverpool. O cabelo em corte franjinha e alourado
era um misto de Beatles e The Monkees, a banda americana que copiou a
inglesa e fazia sucesso na TV com um seriado do tipo sitcom. A foto na
capa da revista O Cruzeiro (maio/1967) comprova o enunciado. O jovem Mário Marino (seu nome de batismo) atraía as garotas aos ringues com o mesmo apelo de sex appeal
dos ídolos musicais daqueles anos. Seus combates contra grandes
lutadores, como Rino e Fantomas, paravam o país na tela da TV Excelsior. E
se os maiores ícones da juventude tinham direito a programas de
auditórios, como Roberto, Erasmo, Simonal, Ronnie Von, Jair Rodrigues e
Elis Regina, também Ted Boy ganhou o seu. Ao lado da loura Célia Biar,
apresentou “Oh, que Delícia de Show”. Frequentava
constantemente as principais revistas do Brasil como uma celebridade
inconteste. Na Revista do Esporte, a mais importante do futebol
brasileiro até 1969, somente ele, Éder Jofre e Carlson Gracie apareciam
entre as páginas de jogadores. A popularidade o
levou para perto da dupla Renato Aragão e Dedé Santana, compondo o
primeiro time do que viria a ser Os Trapalhões. O filme “Dois na Lona”,
de 1968, provocou filas dois anos depois na calçada do Cine São José, no
bairro das Quintas. Ted Boy Marino foi um dos
grandes heróis da minha geração; décadas antes do termo “crossover”
aparecer nos quadrinhos, eu o misturava nas fantasias com meus heróis
das revistas, como se ele habitasse o mesmo universo de Tarzan, Superman
e Batman. Eu costumava adaptar os bonecos do
Forte Apache como sendo minhas personagens favoritas de HQ, usando
retalhos de tecidos que pegava nas gavetas da máquina de costura da
minha mãe. As brincadeiras eram um arremedo de teatro de bonecos. Uma vez improvisei uma aventura em que Tarzan contou com a parceria do astro do telecatch para resgatar na misteriosa cidade de Pal-U-Don a bacia de Pilatos que dava poderes para acabar o mundo. Até hoje não sei por que a tal bacia surgiu no contexto. Nos
álbuns de figurinhas da Jovem Guarda, que guardo com zelo no meu
acervo, estão lá as estampas de Ted Boy Marino dividindo o glamour dos
anos dourados com Wanderley Cardoso, Vanusa, Ronald Golias, Agnaldo
Rayol, Deno e Dino, Ed Wilson. Sua morte, ontem,
repete o ritual triste do apagar de um tempo romântico do país e ingênuo
na TV, mas que foi fundamental para a construção daquilo de bom que a
cultura nacional ainda tem. O faz de conta da luta livre tinha a arte
que o UFC não tem. Figuras como Ted Boy
representavam o encontro do teatro, do circo com o esporte, por mais que
na época enfrentassem a crítica feroz do mestre do jiu-jitsu, Hélio
Gracie, que acusava o telecatch de ser uma farsa que prejudicava a
atividade esportiva e marcial. Mas na fantasia
dos seus golpes de araque, nas voadoras no pescoço dos parceiros, ele
incutia no imaginário nacional o prazer de um entretenimento saudável.
Há muito que o povo brasileiro necessita encontrar no esporte e nas
artes um pouco de riso e idolatria. Quem viveu ou
percebeu a época da Jovem Guarda entende o vazio que deixa um ídolo
daqueles anos. E se há um menino feliz no homem que sou hoje, devo às
experiências míticas da infância e aos caras como Ted Boy Marino, um
herói lúdico do meu tempo.
DESCANSEM EM PAZ
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